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COMUNICADO Nº 031/2024-JUR/FENAPEF

Senhores Presidentes, A Federação Nacional dos Policiais Federais, através de sua Diretoria Jurídica, vem informar acerca da Ação da...
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Os bastidores da segurança pública aos olhos de um policial federal são o mote central da história Efeito Dominó. O projeto foi criado originalmente para ser uma série de TV, mas o policial D.R. Mag, que prefere manter o anonimato, quis aprofundar mais o tema e abordar, também, as pautas de interesse da carreira. 

EFEITO DOMINÓ é,  segundo sua página no Facebook, "uma história de polícia para "polícia". Para quem gosta e quem não gosta dela, para quem quer conhecer seus bastidores e para aqueles que julgam conhecê-los. Enfim, para aqueles que conhecem e não têm medo de se depararem com o espelho. 

Leia entrevista realizada pelo SINPEF-PR.

SINPEF-PR: O fato de você ocultar seu verdadeiro nome, usar máscara e distorcer a voz durante a gravação do vídeo de divulgação da campanha foi uma estratégia de marketing, já que você é formado em publicidade e propaganda?

D. R. Mag: Não. Infelizmente, não teve a ver com isso. Foi por questão de segurança mesmo! Lamentavelmente, vivemos em um país que tem leis para proteger criminosos de todo o tipo, mas que não protege seus policiais. O que é uma incongruência, porque uma polícia desprotegida não pode proteger ninguém… Por aqui, cada vez mais, vemos profissionais de segurança pública reféns de criminosos que revistam carros, mochilas, carteiras e até celulares de suas vítimas para saberem se são policiais e, em caso positivo, já sabemos o que acontece. E a população tem se acostumado com isso! Na minha concepção, deixar um vídeo exposto é facilitar – ainda mais – a situação para esses bandidos, que já contam com muitos fatores a seus favores.

SINPEF-PR: Mas você acha que até a exposição do nome pode oferecer riscos?

D. R. Mag: Sim! Hoje em dia, com o acesso à internet, todo mundo virou detetive, investigador. Com um nome se chega a uma foto de redes sociais, a um endereço, a parentes. E a covardia dos bandidos não tem limites. Pode envolver família, como já ocorreu com alguns colegas. E, infelizmente, se as coisas não mudarem por aqui, como retratado em EFEITO DOMINÓ, isso tende a piorar… Sou a terceira geração de policiais da minha família. Minha avó foi a primeira a ingressar na Polícia Civil de São Paulo, ainda na década de 60. Minha mãe e meu pai ingressaram no início das décadas de 70 e 80, respectivamente. Hoje já estão aposentados. Quatro tios eram policiais também, um permanece na ativa desde 1987, outros já deixaram a polícia. Nasci e cresci nesse meio, passava minhas férias em delegacias porque minha mãe nem sempre conseguia férias nos períodos de recessos escolares. Ouvi muitas histórias e vi muita coisa mudar com o tempo. Na minha época de criança, todos sabiam que eu era filho de policiais e nunca tive problemas por isso, pelo contrário. Acho que era motivo de um respeito maior. Meus colegas me admiravam por isso. Hoje, por questão de segurança, policiais chegam a esconder a profissão dos vizinhos e – pasmem! – até dos filhos!

SINPEF-PR: Como foi que você teve a ideia de criar EFEITO DOMINÓ?

D. R. Mag: A história veio de um conflito entre aquilo que eu imaginava da polícia – e foi incrível a quantidade de leitores policiais que me relataram a identificação com a dupla de protagonistas – e aquilo que passei a vivenciar depois que ingressei. Normalmente, as pessoas que buscam ser policiais são influenciadas por filmes, séries e alguns até por novelas, que passam longe de retratar a realidade. E depois de empenharem meses e até anos de suas vidas se preparando para os concursos, cada vez mais concorridos e difíceis, acabam se desapontando com o abismo entre a polícia ideal e a polícia real.

SINPEF-PR: E na sua opinião, qual a diferença entre a polícia ideal e a nossa?

D. R. Mag: Ideal é forma de falar. A polícia ideal não existe, ela é fruto da idealização de cada um. Se perguntarmos para dez policiais, que são aqueles que vivenciam os problemas da profissão no dia a dia, os dez vão dar suas versões individuais. Mas, acho que teríamos uma convergência em alguns pontos importantes: uma polícia estruturada tanto em instalações quanto em recursos materiais, uma polícia que encontra respaldo na lei para ser forte, uma polícia que valorize seus profissionais e não que os divida em castas – porque, diferentemente do que estamos acostumados a ver na TV, polícia é equipe! – e que seja valorizada pela sociedade, que deveria ser a maior interessada em melhorias para se beneficiar com isso. Na minha opinião, uma polícia ideal – ou próxima disso, como vemos em países que levam a segurança pública a sério – é aquela que motiva o policial a trabalhar e não aquela que o obriga a obedecer.

 SINPEF-PR: Se a polícia não funciona bem, quem é o responsável por isso?

D. R. Mag: Infelizmente, por aqui, a polícia só funciona bem nos casos de repercussão. E isso tem um porquê: dar respostas rápidas à sociedade e causar a impressão de que ela é sempre eficiente. Só quem já ficou horas para registrar um boletim de ocorrência – e que não deu em nada – sabe como é a realidade: documentar um crime para alimentar as estatísticas! E o menor culpado disso é o policial, aliás, ele também é vítima de um sistema falido – ao menos aquele que permanece honesto – só que é o mais cobrado, porque está na linha de frente, pela sociedade, pela imprensa, e não tem poder nenhum de mudar essa estrutura deficiente. Essa deficiência engloba diversos fatores como falta de efetivo, de instalações, equipamentos e incentivos salariais e profissionais que se traduzem em desmotivação para o policial, que é quem move as engrenagens. E se a polícia ainda funciona em alguns casos cotidianos – e longe dos holofotes – é por mérito de profissionais que se desdobram para vencerem obstáculos que minam boa parte de suas energias, quando estas deveriam se concentrar apenas nas investigações e combate ao crime.

SINPEF-PR: Como você retratou isso de forma ficcional? Ou foi baseada em situações reais?

D. R. Mag: A história aborda diversas questões. A principal, e que permeia todas as subtramas é a INsegurança pública brasileira. Ela é o “protagonista oculto” presente em cada página. Mas, para ilustrar as correntes que temos dentro da polícia como um todo, criei personagens de “carne e ossos” dentro da história, que têm seus desejos, sonhos, conflitos, mágoas, que têm sentimentos e que sangram como qualquer um de nós. Posso dizer que os dois personagens principais, Augusto e João Carlos, acabaram sendo duas partes de mim em conflito em busca de respostas. Quando você é novo na polícia – e entra bem-intencionado – você entra cheio de gás, disposto a não olhar para as dificuldades e se doar para colocar a sua visão inocente em prática. Mas, com o tempo – e cada vez mais rápido – os novatos vão percebendo que a polícia por aqui é feita para enxugar gelo e triturar motivação. E a geleira só aumenta…

SINPEF-PR: E como são esses personagens?

D. R. Mag: O Augusto é o novato, cheio de gás, que enfrenta a família, a namorada, para ser policial. A família acha que é um desperdício, que ele pode ser muito mais, mas ele banca seu sonho. Acha que vai fazer a diferença e que pode mudar o mundo – como muitos de nós um dia acharam! Já o João Carlos, o cara que vai ser seu parceiro, é um cara com mais de uma década de estrada, desacelerado pelo próprio sistema, não quer confusão e não tem interesse em fazer nada além do mínimo necessário. É o cara casado, com filho, que não terminou a faculdade e que já foi um “Augusto”, mas que cansou de enxugar gelo. E essa química vai fazer a dupla funcionar. E isso terá um custo… Mas eu não posso adiantar, dar spoilers.

SINPEF-PR: E onde se passa a história?

D. R. Mag: EFEITO DOMINÓ é ambientada numa cidade geo-fictícia inspirada no Rio de Janeiro, por conta da dicotomia “morro-asfalto”. Mas se encaixa perfeitamente em qualquer grande capital brasileira, em especial as litorâneas devido ao cenário que tem grande importância no desfecho da história. Mas tem passagens em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Brasília, com o núcleo político da história, que envolve um senador que acaba tendo ligações com o tráfico de drogas. Inclusive, tem três passagens aqui no Paraná. Duas delas importantíssimas: uma em Curitiba e outra em Foz do Iguaçu.

SINPEF-PR: Curitiba? Algo a ver com a Operação Lava Jato?
D. R. Mag: Não. A história é bem mais antiga que a Lava Jato. Mas, não do que os crimes apurados por ela. Temas como corrupção de agentes públicos e lavagem de dinheiro, tráfico de influência e outros, são comuns, mas as histórias são bem diferentes. EFEITO DOMINÓ Foi criada em 2004 e desenvolvida entre 2011 e 2015 em forma de romance policial, mas na verdade, foi criada para ser uma série audiovisual. Rendeu uma história de quase 1300 páginas, divididas em 58 capítulos e agora chega ao público em forma de uma série em livros. A Lava-Jato já rendeu um monte de livros, virou filme, virou série… E não acabou! Na verdade, ainda nem sabemos onde isso tudo vai parar. EFEITO DOMINÓ, por ser uma obra ficcional, já tem início, meio e fim.

SINPEF-PR: Depois do lançamento dos livros você pretende que EFEITO DOMINÓ também seja produzida como uma série para TV? Pelo que disse, os temas abordados são polêmicos…

D. R. Mag: Polêmicos? Eu diria que a história é um retrato ficcional do Brasil. Da polícia, da política, da imprensa, da justiça… A história é policial, mas vai bem além disso. A corrupção é enraizada em toda a nossa sociedade e isso traz reflexos para todos nós, ainda que por comodismo fechemos os olhos para isso, como é demonstrado no enredo. Ainda assim, não acho que os temas abordados sejam empecilhos para uma produção televisiva, mas além da TV, já temos outros meios de produção e veiculação de audiovisuais, como o streaming e canais na internet, que fornecem conteúdo de altíssimo nível e que podem levar histórias de qualidade para o mundo todo. Por que não as nossas? Basta ver o sucesso que a franquia Tropa de Elite fez. E isso não foi por acaso. Teve policiais envolvidos na criação, na produção, no roteiro, e o público percebe isso! Mesmo sendo ficção, transmite realidade aos olhos. Muita gente fala sobre polícia e passa uma visão distorcida sobre ela. Já é hora de policiais começarem a falar sobre polícia de verdade. E a verdade pode ser inconveniente para alguns…

SINPEF-PR: Pelo visto, EFEITO DOMINÓ atira para todos os lados… Você não acha que pode melindrar muita gente com isso?

D. R. Mag: Não. Ao contrário! Acho que os bons profissionais, e mais do que isso, as pessoas de bem, sabem que as questões abordadas na narrativa existem em todas as profissões, cargos, instituições, e o primeiro passo para se resolver um problema é admitir que ele existe. Então, o fato de expor corrupção na polícia não significa que todos os policiais sejam corruptos, e história mostra isso. O mesmo vale para o juiz que vende sentenças, o advogado que corrompe para libertar seus clientes, o profissional da imprensa que manipula as informações para atender interesses que não coadunam com a verdade. Acho que a sociedade como um todo – e esses profissionais fazem parte dela – quer histórias verossímeis que a represente. Já temos bastante novelas e filmes com histórias policiais que retratam uma “realidade fantasiosa”. E os policiais de verdade sabem bem disso…

SINPEF-PR: E como anda o projeto para essa produção?

Fiz um curso de roteiro e produção para séries e apresentei EFEITO DOMINÓ como TCC. A banca avaliadora, composta por profissionais da área de cinema e TV, elogiou muito o projeto e me encorajou a apresentá-lo a produtoras e canais. Tenho o argumento da primeira temporada pronto e o arco de toda a história, personagens bem definidos e todos os diálogos para facilitar a roteirização. A história pode ser rodada com três ou quatro temporadas, a depender dos produtores. O feedback que tenho recebido de inúmeros leitores, muitos dos quais nem conheço pessoalmente, demonstra que a história tem grande potencial para isso, o que é gratificante e me encoraja a direcionar esforços nesse sentido. Resta chegar às mãos certas.

SINPEF-PR: E para por aí, ou tem novos projetos?

D. R. Mag: Sim. Projetos não faltam! Tenho o privilégio de trabalhar com algo que acaba servindo como laboratório para minhas criações. O difícil é arrumar tempo para conciliar a vida profissional, a familiar e a “vida criativa”… EFEITO DOMINÓ é só o primeiro projeto a vir a público. Tenho estudado para finalizar o roteiro de um longa-metragem baseado em um conto que escrevi, que se passa na capital paulista durante um assalto a uma residência. Para o próximo ano, tenho planos para publicar uma série de livros no formato pocket com histórias de campo da PF e, em parceria com outros dois colegas, iniciar os trabalhos para escrever sobre uma famosa operação policial que participamos por quatro anos e que certamente dará outra grande série. Vamos ver no que vai dar…

SINPEF-PR: Qual o seu recado para os Policiais Federais que operam na Lava Jato?

D. R. Mag: Que não esmoreçam! Todos os dias vemos notícias de “forças invisíveis” que tentam frear a operação ou os seus resultados. Acho que a Lava Jato é um divisor de águas, porque ela, ainda que esteja em andamento e não saibamos o desfecho, representa a esperança do fim da sensação de impunidade. Quem faz parte da Polícia Federal sabe que, mesmo com problemas internos que temos, o trabalho em equipe funciona. A Lava Jato é um exemplo disso! A popularidade e a credibilidade da PF se devem a isso! Mesmo que a maioria dos rostos e nomes dos envolvidos nos bastidores da investigação não apareçam, eles são os responsáveis pelos resultados que estão aí! A população conta com esses policiais, mesmo sem conhece-los.

SINPEF-PR: E, para finalizar, qual é o seu recado para o cidadão, que deposita nos Policiais Federais a esperança de dias melhores para o Brasil?
D. R. Mag: Que ele continue depositando a sua confiança no trabalho desses profissionais porque são eles que movem as engrenagens da PF para que ela funcione de forma efetiva. E que, principalmente, entenda que ele, cidadão, tem um papel fundamental para que esses dias melhores possam se tornar uma realidade. Dentro de alguns meses, teremos eleições e, mais do que votar, é preciso “saber em quem votar”, analisar, escolher. Muitas pessoas acham que um presidente pode resolver o problema do Brasil, ou um governador os problemas de seu estado, e se esquecem do fato de que são os deputados e senadores que fazem as leis, e pagamos um preço alto por esse descaso. Temos vários colegas Policiais Federais, em diversos estados, que se cansaram de ver parlamentares não representarem o interesse da população e passaram a se lançar candidatos a estes cargos. Particularmente, vejo isso como uma forma de empenhar seus esforços – e seu reconhecido bom trabalho – onde precisamos de gente honesta e de credibilidade, para termos leis que amparem nossas necessidades. Então, seja na PF ou nas casas legislativas, acho importante confiar no trabalho desses profissionais. Resta ao cidadão escolher o que quer para seu futuro…