Combate à corrupção também esteve entre os temas discutidos no Congresso Nacional de Policiais Federais, em Curitiba (PR); evento segue até sexta (30)
O primeiro dia do 17º Congresso Nacional dos Policiais Federais (XVII Conapef), em Curitiba (PR), foi recheado de palestras sobre temas de relevante interesse social. Policiais e profissionais renomados na segurança pública compartilharam conhecimento e informações com os cerca de 300 presentes no evento de alcance nacional.
Após a abertura, que contou com a presença de autoridades, como o futuro chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi a vez do agente do Departamento de Polícia de Los Angeles (EUA) Eliel Teixeira. O deputy sheriff fez um apanhado da situação da polícia norte-americana e comparou com a do Brasil.
“É até difícil explicar o modelo brasileiro para um policial americano”, relatou, em alusão ao modelo ultrapassado de investigação no Brasil. Para ele, a polícia que aparece na cena do crime deveria ser a mesma para continuar a investigação – forma defendida pela Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).
Crimes cibernéticos
Na parte da tarde, o policial federal Luiz Walmocyr dos Santos Junior deu um panorama sobre crimes cibernéticos no Brasil. Atualmente, o País é o segundo na ocorrência desse tipo de crime – mais de 60 milhões de pessoas já foram lesadas pela prática. O foco do policial é o combate a crimes pornográficos pela internet e de abuso sexual, especialmente os de pedofilia. “É um tema pesado e que ninguém quer falar sobre, mas é algo que acontece. Precisamos tomar medidas sérias e urgentes para combater esse mal.”
Segundo o autor do livro “Protegendo anjos”, 80% dos abusos são cometidos por pessoas próximas às vítimas. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2011 e 2017, o Brasil teve um aumento de 83% no registro de casos de abuso contra crianças e adolescentes, fora os que são subnotificados. “O crime evolui a cada dia, é preciso que o modelo policial acompanhe essa evolução”, afirmou Walmocyr.
Carreira policial
Em seguida, o policial federal Marco Antonio Scandiuzzi comentou sobre a carreira policial. Modelos defendidos pela Fenapef e previstos na Constituição Federal, a carreira única e o ciclo completo de polícia voltaram a ser discutidos e aclamados pelos policiais presentes no Congresso. “Temos que batalhar pela porta única de entrada na Polícia e pela unificação dos cargos operacionais, criando um caminho de entrada pela base”, defendeu.
Scandiuzzi explicou que é preciso pensar em caminhos conjuntos para modernizar o modelo de investigação e a Polícia Federal como um todo. “O dia que conseguirmos colocar alguém no topo com a ‘sacola cheia’, vindo da base, os problemas serão coletivos. Com problemas coletivos, passaremos a ter soluções coletivas.”
Reforma da segurança pública
O vice-presidente do Sindicato dos Policiais Federais do RJ e da Fenapef, Luiz Cavalcante, mediou a mesa redonda que teve como tema “O desafio da reforma da segurança pública no Brasil”. Na mesa, estiveram presentes o procurador da República e presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, o agente de Los Angeles Eliel Teixeira, o policial federal e autor de diversos livros sobre segurança pública Marco Scandiuzzi e o deputado federal reeleito pelo Maranhão Aluísio Mendes.
O debate girou em torno do atual modelo de segurança pública e as inovações que deveriam ser adotadas para sua melhoria, como a adoção da carreira única, e ciclo completo, entre outros.
Para Robalinho, os temas discutidos durante o Congresso são de extrema relevância. “Precisamos rediscutir e modernizar a forma de trabalhar com a investigação policial. Temos que quebrar paradigmas e enfrentar o sistema. A PF precisa ser modernizada. Queremos que ela continue dando exemplo de modernidade e melhoria no serviço prestado à população.”
Para encerrar o primeiro dia, “Redes de corrupção política e as leis de escala de crimes” foi o tema da última palestra dessa quarta (28). O professor e doutor em Física Haroldo Valentim Ribeiro lamentou a ausência de dados consistentes sobre corrupção. Para estudar o problema, Valentim utilizou informações de jornais e revistas de grande circulação para entender e quantificar casos de corrupção no Brasil.
“A ausência de dados é o fator limitante para abordar a corrupção de forma empírica e direta”, disse. Da década de 1980 até agora, apenas 65 casos de corrupção foram bem noticiados pela imprensa.
Num ranking com 180 países, o Brasil está na 96ª posição entre os países menos corruptos, próximo de países vizinhos e africanos. Dados do Banco Mundial estimam que o custo anual da corrupção ultrapasse 5% do PIB mundial – US$ 2,6 trilhões, sendo um trilhão só em propina.
Haroldo acredita que a rede de corrupção no Brasil seja dinâmica. Segundo o estudioso, isso vem desde 1987, data do primeiro caso de corrupção bem noticiado. “É possível utilizar o conhecimento dessa rede para fazer algumas previsões, antevendo parcerias criminosas.”
Conapef
Nos dias 29 e 30, os participantes terão espaço para um debate mais profundo sobre os eixos temáticos propostos pelo Congresso – “Novas práticas e novas tecnologias de investigação policial” e “Projetos Fenapef: novas alternativas e novos caminhos”. Os interessados poderão propor teses, projetos ou moções que levantem a discussão em torno das novas práticas e novas tecnologias na investigação policial e das alternativas para implantação de projetos da Fenapef.
As teses aprovadas serão convertidas em material de divulgação junto aos operadores do direito, aos representantes eleitos pela sociedade civil, às universidades, faculdades, centros de pesquisa, institutos, fundações, fóruns de segurança pública e privada e, em especial, aos policiais e demais operadores de segurança pública. Elas também farão parte do Painel Permanente de Segurança Pública e os projetos aprovados farão parte do Painel Sindical Policial Federal.
Comunicação Fenapef