Medida abre espaço para liderança feminina na cúpula do sindicalismo. Hoje, três presidentes mulheres estão à frente de sindicatos da categoria e há uma quarta já eleita
A Polícia Federal (PF) é uma corporação tida como quase exclusivamente masculina. A direção da entidade não divulga números precisos do efetivo, mas a estimativa dos sindicatos é de que entre os cerca de 14 mil servidores, entre 15% e 25% são mulheres. A representação sindical também começa a contar com a presença feminina. O ano de 2019 termina com quatro policiais federais femininas – duas agentes e duas escrivãs – a frente de sindicatos da categoria. São 27 presidentes em todo o Brasil. 15% deles são presididos por mulheres.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) compreendeu que as mulheres da Polícia Federal têm uma pauta de reivindicações específicas. Isso ficou ainda mais claro com a reforma da Previdência. “A categoria toda foi atingida, mas as mulheres foram ainda mais prejudicadas. Há casos de colegas que terão que pagar ‘pedágio’ de até dois mil por cento do tempo que faltava para se aposentar”, explica o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens.
A certeza da necessidade de abrir espaço para a pauta feminina na representação sindical foi o catalizador de uma decisão tomada quase trinta anos depois da criação da Fenapef, em 1990: a criação da Diretoria das Mulheres.
A abertura desse espaço foi decidida durante a última assembleia geral extraordinária (AGE). A eleição e as atribuições serão decididas na próxima assembleia, prevista para o mês de março.
“Essa diretoria fará jus à grande importância feminina para a Polícia Federal e trará uma representação muito grande da mulher para dentro da Federação, para que as suas lutas possam ser ainda mais alavancadas”, assegurou o vice-presidente da Fenapef, Luiz Carlos Cavalcante, ao encerrar a AGE.
Em todo o Brasil, quarenta policiais federais já têm cargos em representações sindicais de Policiais Federais, mas são apenas quatro as presidentes: nos sindicatos do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Pará. “Elas precisam ter seu espaço reconhecido; suas lutas têm características específicas”, explica Boudens.
São lutas específicas, batalhas únicas, que já começam no treinamento. “Agora que a Polícia Federal está tomando uma atitude e elaborando projetos como defesa pessoal e tiro para mulheres”, comenta a presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Estado do Paraná (Sinpef-PR), Bibiana Orsi.
“Não temos muitas práticas que atentem à fisiologia feminina e, dentro da luta sindical, estamos também reivindicando esse espaço de equidade”, detalhou Susanna do Val Moore, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do estado de São Paulo (SINDPOLF/SP). Segundo ela, a simples criação de um curso de tiro para mulheres é uma medida relevante: “Não tem sentido fazer um curso desses sem levar em conta que nossa mão é menor do que a dos colegas homens, por exemplo”, explicou.
“A mulher precisa que o sistema seja adaptado e isso não deve acontecer porque não somos capazes, mas porque somos diferentes”, defende Karin Peiter, presidente do sindicato dos Policiais Federais de Santa Catarina (Sinpofesc).
Elas são vanguarda num universo tradicionalmente masculino, mas onde a presença da mulher já é significativa. “Se a gente for ver, o sindicalismo sempre foi hostil à presença feminina”, se queixa Cleisi Ferreira, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Pará (Sinpef-PA)