“As atividades do Setor de Planejamento Operacional da Polícia Federal em São Paulo começam logo pela manhã e não têm hora para terminar”, assim define o chefe do SPO, Antônio Machado, que está lotado no setor há sete anos e atua na PF há 33 anos. Ele conta que a divisão tem função de apoio logístico, operacional e administrativo da superintendência em todo o estado.

“Somos mobilizados para as missões mais imprevistas que ocorrem diariamente. Para exemplificar com aquela frase do cancioneiro popular, ‘o amigo certo das horas incertas’, prestando auxilio dos mais variados a todas as delegacias do Interior, litoral e da Capital quando solicitado, seja durante a semana ou nos finais de semana, noite ou dia igual o Vigilante Rodoviário”, explica Machado. A menção é ao famoso seriado de TV, lançado nos anos 60, pela Tupi, cujos episódios mostravam a agitada rotina de trabalho do inspetor Carlos e seu cão Lobo, pelas estradas paulistas, no combate ao crime.

Entre as diversas atribuições, o Setor de Planejamento Operacional é responsável pelo cumprimento de mandados de prisão, diligências, capturas e intimações. “Todas as requisições que que a Justiça manda para a PF, como escoltas, conduções coercitivas, mandados de prisão, é o SPO que faz. Também as antigas atribuições genéricas, que eram da Fazendária, agora são do SPO”, explica o agente federal Linário Leal Junior que está há 10 anos no setor e veio da Delegacia Fazendária.

Com orgulho, Linário descreve sua rotina que inclui também serviços imprevistos, seja para cobrir equipes na falta de pessoal ou para realizar intimações, escoltas urgentes de presos, em transferências e audiências de custódia, além de outras diligências.  “Sou um Severino lá: faço de tudo um pouco”, brinca. “O que tem que me preceder é o meu trabalho e a minha capacidade. Se eu não for capaz, se não for eficiente como provedor, que homem seria esse que não se sustenta moralmente?”, completa o agente.

Para Machado, o setor cresceu muito nos últimos anos. “Evoluiu na chegada de policiais federais capacitados, nas mais diversas áreas acadêmicas, e no aprimoramento policial propriamente dito”. Segundo ele, isso ajuda no enfrentamento das dificuldades diárias. 

Cerca de 28 policiais estão lotados no setor, sendo 16 na escolta de presos. De acordo com Machado, há redução do efetivo por conta de aposentadorias, relotações e remoções de servidores para outras unidades. Ao SPO estão subordinados três subgrupos: de Escoltas, Capturas e Central de Intimações, que atendem a demanda de toda a Superintendência, exceto as urgentes e as sigilosas de cada delegacia. Apesar do baixo efetivo, ele destaca a abnegação dos servidores, a “criatividade e proatividade dos policiais lotados no SPO, que realizam suas tarefas com dedicação, além da boa sintonia com os outros órgãos, como Justiça Federal, Ministério Público, Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Centros de Detenção Provisória (CDP), penitenciárias, entre outros”.

Linário complementa: “É uma experiência policial muito boa porque você trabalha com atividade-fim, que é prender, tocar o processo e auxiliar a Justiça Federal. Não é só uma parceria. A PF não é um órgão de servidão, ela é a continuidade da Justiça Federal”.

Preconceitos

A princípio, o setor pode parecer que não tem problemas, nem enfrenta preconceitos e as atividades que executa são fáceis. Mas não é bem assim. O SINDPOLF/SP apurou relatos de que, há alguns anos, o SPO era visto internamente como uma unidade para onde eram alocados os servidores que enfrentavam algum tipo de problema pessoal, funcional, administrativo ou psicológico.

Machado explica que a partir de 2011, a autoestima dos profissionais foi sendo reconquistada e hoje a visão que se tem do SPO é mais realista: a de policiais altamente qualificados. Machado e Linário fazem a mesma avaliação de que o setor está “quase próximo do bom”. Para eles, o ambiente pode ser ainda aperfeiçoado.

Linário acredita que ainda persiste uma imagem equivocada, principalmente em relação aos policiais mais antigos, que com o advento da maturidade, tempo e experiência da equipe, acertos e erros, será superada. “Isso eu falo para todos os colegas – o maior estigma é criado por nós mesmos. Nós é que desqualificamos os profissionais no SPO, que temos medo de trabalhar no setor e nos submetemos ao assédio moral horizontal”.

 “Criamos esse mecanismo contra nós mesmos, por meio do preconceito, mas somos todos policiais com os mesmos hábitos, bons ou ruins, porque ninguém veio de Marte”, completou o agente.

Escolta - Na próxima reportagem, a ser publicada em breve, o SINDPOLF/SP abordará o problema das escoltas de presos realizadas pelo SPO.